quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Memorial da Inclusão: Os Caminhos da pessoa com deficiência

Memorial da Inclusão: Os Caminhos da pessoa com deficiência

SIGNIFICADO DO LOGO

A transformação da crisálida em borboleta representa o sucesso de rompimento do seu próprio casulo. Sabe-se que essa etapa é fundamental para a sobrevivência da borboleta. A saída do casulo requer muita energia. Os movimentos são lentos, porém fortes e pontuais.
A espiral, na trajetória e nas antenas da borboleta símbolo do Memorial, significa esse processo pessoal e intransferível que a borboleta tem que cumprir por si mesma. Simboliza o protagonismo das pessoas com deficiência em defesa de seus direitos, representa sua trajetória da exclusão e invisibilidade para a cidadania plena. O colorido e o desenho assimétrico das asas remetem à diversidade humana e à variedade das deficiências, suas demandas e potencialidades.
Para muitas culturas, o circular e o espiralado representam o ciclo da vida e nos remetem à idéia de que não existem um começo, nem um fim. O Memorial da Inclusão, instalado num espaço redondo, reflete a história que representa. De qualquer ângulo que se olhe, podemos começar a conhecer a história do movimento social das pessoas com deficiência. Melhor do que um destino é refletir um ir além, um renovar.
O Memorial da Inclusão reflete, portanto, os significados da diversidade, do circular e do espiralado, os quais simbolizam as histórias e as memórias que se cruzaram e aquelas que ainda vão se cruzar para construir uma sociedade inclusiva.
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O movimento social da pessoa com deficiência destacou-se na década de 1970 entre outros movimentos sociais nacionais, em prol de uma sociedade participativa e democrática. Trata-se de um movimento de caráter urbano, bem definido em seus objetivos, em sua estratégia de ação e conteúdo reivindicatório.
As ações do movimento social circunscreveram passeatas, reuniões, encontros municipais, estaduais e nacionais, fóruns, seminários, participação ativa na Constituinte, publicação de artigos e livros, inserção na mídia, na forma de entrevistas e debates.
Quanto ao conteúdo reivindicatório, o movimento julgou necessário atuar em prol das garantias constitucionais/legais e também apostar na mudança dos valores sociais relacionados à percepção da deficiência e da pessoa com deficiência.
Na luta pela garantia dos direitos sociais, comuns a todos os cidadãos – como saúde, educação, trabalho, lazer –, o movimento social da pessoa com deficiência trouxe à sociedade a oportunidade de tomar consciência e lidar com importantes aspectos do convívio social. A questão da acessibilidade em ambientes de trabalho, de circulação, de lazer, entre outros, por exemplo, importante indicador de uma sociedade inclusiva, é extensiva a todos os cidadãos e não exclusivamente às pessoas com deficiência.
Este painel promove também uma homenagem aos militantes do segmento, que atuaram nas diversas instâncias preparatórias para o Ano Internacional das Pessoas Deficientes – AIPD, em 1981. Sabemos que os nomes e os retratos não contemplam a totalidade dos militantes, por isso solicitamos que você compartilhe conosco sua memória e indique outros importantes sujeitos desta história. Faça seu registro no Livro de Visitas. 

A exposição possui cerca de 600 documentos selecionados para compor uma leitura do movimento social da pessoa com deficiência.
Conheça o Memorial da Inclusão - Av. Auro Soares de Moura Andrade, 564 - Portão 10 - Barra Funda - São Paulo - SP Tel.: (11) 5212.3700 ao lado do Memorial da América Latina

 
http://www.memorialdainclusao.sp.gov.br/br/home/index.shtml

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

AUTISMO: Autismo é o extremo do masculino, diz inglês

Autismo é o extremo do masculino, diz inglês

CLÁUDIA TREVISAN
da Folha de S.Paulo

O psicólogo inglês Simon Baron-Cohen, 45, começou a estudar as diferenças de comportamento entre homens e mulheres há dez anos, intrigado pela alta incidência do autismo no mundo masculino. Nos dez anos anteriores, ele havia constatado que essa condição atingia muito mais homens do que mulheres, em uma proporção que chega a 10 para 1 no tipo mais leve de autismo, a síndrome de Asperger.

O resultado da década de estudo é o livro "The Essencial Difference: Men, Women and the Extreme Male Brain" (A Diferença Essencial: Homens, Mulheres e o Cérebro Masculino Extremo), publicado no primeiro semestre na Inglaterra, no qual ele defende que o autismo é a exageração das características do cérebro masculino.

Baron-Cohen apresenta dois tipos de "cérebro": o voltado à empatia, mais comum nas mulheres, e o sistematizador, mais frequente nos homens. O feminino permite a melhor compreensão do outro e das emoções, enquanto o masculino demonstra maior habilidade no entendimento de coisas e de sistemas. A seguir, trechos da entrevista que Baron-Cohen concedeu à Folha por telefone:

Folha - Homens e mulheres têm cérebros diferentes?

Simon Baron-Cohen
- Sim. No meu livro eu apresento uma série de evidências de testes psicológicos, inclusive com animais.

Folha - Poderia dar exemplos?

Baron-Cohen
- Há um questionário chamado de "teste de empatia", que permite medir o interesse nos sentimentos de outras pessoas e a facilidade em percebê-los. A conclusão é que mulheres se saem melhor. Outro teste é o de "sistematização", que dá a medida do interesse em diferentes sistemas, como máquinas, programas de computador ou sistemas naturais, como meteorologia. Os homens se saem melhor.

Folha - As diferenças não são provocadas por questões culturais?

Baron-Cohen
- Tenho certeza de que cultura tem papel importante. Mas estudamos crianças muito novas. Um dos estudos foi com crianças no seu primeiro dia de vida. Nós mostrávamos a elas o rosto de uma pessoa e um móbile mecânico. Os bebês homens olhavam por mais tempo para o móbile, enquanto os bebês mulheres se fixavam nas faces. E eles tinham 24 horas de vida. A cultura é importante, mas a biologia também.

Folha - Qual o papel dos hormônios na definição das diferenças?

Baron-Cohen
- Em outro estudo mostramos a influência da testosterona no estágio pré-natal. Nós medimos a quantidade de hormônios masculinos no líquido amniótico e fizemos a relação com o comportamento posterior da criança. Descobrimos que quanto maior o nível de testosterona, menor a probabilidade de a criança se fixar nos olhos de pessoas quando tinha um ano.

Folha - Qual a relação entre o cérebro masculino e autismo?

Baron-Cohen
- Esta é a outra parte da teoria, segundo a qual o autismo é uma exageração do perfil masculino. No autismo, a pessoa é profundamente interessada em sistemas e tem uma dificuldade severa em estabelecer empatia.

Folha - De que tipo de autismo estamos falamos?

Baron-Cohen
- Há um amplo espectro de autismo. Algumas pessoas têm um tipo mais leve, chamado síndrome de Asperger, com bom desenvolvimento da capacidade intelectual. Nesse grupo é mais clara a exageração das características masculinas. Os que têm o tipo mais severo de autismo [o clássico] podem ter problemas de linguagem e dificuldades de aprendizado, mas é possível ver características semelhantes. São obcecados por sistemas e têm pouco interesse em pessoas.

Folha - Qual é a diferença entre o autismo clássico e Asperger?

Baron-Cohen
- A maior diferença é que na síndrome de Asperger a criança fala na idade certa e tem inteligência normal. Mas em outro sentido, as duas são muito similares. Tanto no autismo clássico como na síndrome de Asperger, o indivíduo tem dificuldades sociais, problemas de comunicação e obsessão por sistemas.

Folha - Uma pessoa com Asperger pode ter uma vida normal?

Baron-Cohen
- Sim. Se estão em um grupo social no qual eles são tratados com tolerância, eles podem ter uma vida normal. Mas alguns desenvolvem depressão, porque querem ter amigos e se relacionar e têm dificuldades.

Folha - Como é uma criança com síndrome de Asperger?

Baron-Cohen
- É muito verbal e muitas vezes usa palavras típicas de adultos, tem um estilo de linguagem adulto e prefere falar com adultos do que com crianças. Também desenvolve forte interesse por temas inusuais e torna-se quase especialista em certos temas. As outras crianças tendem a evitar a criança e deixá-la isolada.

Folha - Qual é o percentual da população que tem autismo?

Baron-Cohen
- A estatística de todo o espectro, que inclui a síndrome de Asperger, é de 1 em cada grupo de 200 pessoas. É muito alto. A síndrome de Asperger só foi reconhecida recentemente, nos últimos dez anos.

Folha - É verdade que em cada grupo de 5 autistas, 4 são homens?

Baron-Cohen
- Sim. No caso de Asperger, a proporção é maior: de 10 homens para cada mulher.


AUTISMO: Movimento diz que autismo não é doença

Movimento diz que autismo não é doença

AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo

Problemas de comunicação. Comprometimento da sociabilidade. Alterações comportamentais. Essas são as três principais bases para identificar uma pessoa com autismo --síndrome descrita nos anos 40 que pode se manifestar de formas severas, em que a pessoa parece totalmente alheia ao que se passa ao seu redor, a níveis brandos. Mas e se essas características não constituírem um problema, e sim uma forma diferente de pensar, tão válida quanto qualquer outra?

Para os adeptos de uma nova corrente chamada neurodiversidade, a resposta a essa pergunta é clara. Assim como não há uma cor de pele "certa", afirmam, também não há uma forma "correta" de pensar. O assunto, porém, é polêmico tanto entre parentes de autistas quanto no meio médico.

Há cerca de um mês, o debate chegou oficialmente por aqui, com a criação da primeira entidade voltada à defesa da neurodiversidade no país: o Movimento Orgulho Autista Brasil.

O grupo, que já desenvolvia algumas ações desde o meio do ano passado, integra agora uma rede espalhada por diversos países, especialmente na Oceania e na América do Norte.
O termo foi criado nos anos 90 por Judy Singer, especialista em sociologia do autismo. Segundo ela, o conceito não se restringe aos autistas, mas a todas as pessoas que, por qualquer motivo, possuem um padrão diferente de pensamento.

Singer decidiu se dedicar ao tema após observar o surgimento de comunidades virtuais nas quais autistas trocavam experiências e questionavam a forma como eram tratados socialmente. Era a primeira vez, desde a década de 40, quando o autismo e a síndrome de Asperger (um tipo mais brando de autismo) foram descritos cientificamente, que essas pessoas --notadamente conhecidas por terem dificuldades para se relacionar-se mostravam capazes de criar uma rede social para defender seus próprios interesses.

"Quatro aspectos principais permitiram que isso acontecesse", disse Singer à Folha. O primeiro foi o surgimento de outro movimento que buscava direitos iguais: o feminismo. "O feminismo deu às mães a autoconfiança necessária para mudar a idéia de que o autismo era causado por mães que criavam mal seus filhos", diz Singer.

Outro fator foi a ascensão dos grupos de defesa de pacientes, aliada à diminuição da autoridade dos médicos --que demoravam a diagnosticar o problema. Tudo isso foi acelerado pela internet. "Ela permitiu que as pessoas trocassem informações livremente, sem a mediação feita por médicos."

Ao mesmo tempo, o crescimento de movimentos políticos formados por pessoas com diversos tipos de deficiência estimulou alguns adultos autistas a pesquisar sobre a auto-representação.

A popularização da internet, mais uma vez, teve um papel fundamental nesse processo. "Foi o que permitiu o movimento de auto-representação dos autistas, pois é a "prótese" essencial --algo que os transforma de indivíduos introvertidos e isolados em uma rede de seres sociais, o que é um pré-requisito para uma ação social efetiva, e em uma voz na arena pública", afirma Singer.

Um desses primeiros grupos foi a ANI (Autism Network International), que surgiu, em 1992, entre autistas da Austrália e dos Estados Unidos. De acordo com Jim Sinclair, coordenador da rede, a idéia surgiu porque os autistas não se sentiam totalmente confortáveis nas comunidades sobre o assunto criadas por especialistas e familiares de autistas.

Afinal, aquelas pessoas, por mais interessadas que fossem no tema, eram "neurotípicas" --termo criado por autistas para definir quem tem um desenvolvimento neurológico considerado normal.

Entre outras diferenças, diz Sinclair, as comunidades "neurotípicas" queriam proteger os autistas, enquanto os próprios autistas buscavam liberdade para correr riscos.

Ao longo dos anos, outros grupos foram criados, assim como sites disseminando a neurodiversidade --entre eles, o www.autistics.org, em que há um link para o falso e divertido Institute for the Study of the Neurologically Typical, que brinca com as características dos "neurotípicos".

Ali, o comportamento "normal" é ironicamente considerado "um distúrbio neurológico caracterizado pela preocupação com normas sociais". Além disso, satiriza o site, "pessoas 'neurotípicas' freqüentemente acham que a forma como vivenciam o mundo é a única correta, têm dificuldades para ficar sozinhos e são intolerantes com as diferenças".

Anticura

Seja em tom bem-humorado ou não, a mensagem divulgada por esses grupos costuma ser a mesma: que o autismo é uma diferença, não uma doença.

Ativistas mais radicais levam a idéia de neurodiversidade além. Defendem que remédios e terapias alteram a subjetividade única do autista e criticam o que consideram uma prescrição excessiva de drogas para controlar o comportamento.

Na contramão, surgiram organizações como a "Cure Autism Now" (cure o autismo agora), que afirma já ter destinado US$ 31 milhões a pesquisas voltadas a evitar ou reverter quadros de autismo.

De acordo com o psiquiatra Marcos Tomanik Mercadante, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), características pessoais passam a ser consideradas doenças quando levam a uma dificuldade de adaptação. "Parte do conceito [da neurodiversidade] é correta. Os autistas têm um cérebro diferente, e isso não é, necessariamente, uma patologia. Mas a maioria deles não consegue conduzir a própria vida. É um modo de ser no mundo; mas, neste mundo, um modo desfavorável."

Para a presidente da Associação Brasileira de Autismo, Marisa Silva, o risco da visão anticura é desestimular a realização de tratamentos que podem melhorar a qualidade de vida dos autistas.

"Uma criança com autismo leve que não for trabalhada terá, quando adulta, tantos problemas quanto um autista que era muito comprometido na infância. É um problema sério, não um modo de ser", diz ela, que tem um filho autista. "Jamais diria que é o jeito dele. Ele é muito comprometido. Gostaria que houvesse uma cura."

"Se minha filha fosse curada, ela não seria a Natália", diz Eliana Boralli, mãe de uma jovem autista de 20 anos e fundadora da Associação dos Amigos da Criança Autista. Ainda assim, afirma, gostaria de ter a oportunidade de dar à filha a opção de ser ou não autista.
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4159.shtml

AUTISMO: Autistas usam remédios para controlar aspectos da doença

Autistas usam remédios para controlar aspectos da doença

AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo

Não existe uma medicação específica para autismo, mas muitas pessoas com esse diagnóstico tomam remédios para controlar aspectos como irritabilidade e problemas de sono.

Para Judy Singer, os remédios só devem ser administrados para aliviar sofrimento, "mas não para mudar as pessoas para que elas se encaixem em idéias limitadas sobre o que um ser humano deveria ser".

É uma opinião parecida com a de Fernando Cotta, presidente do Movimento Orgulho Autista Brasil. "As pessoas precisam respeitar o autista. Isso não significa excluir a possibilidade de uma medicação. Se ele tiver problema de atenção, pode tomar algo que possa ajudá-lo, assim como quem tem gripe toma antigripal."

Instituições flexíveis

Judy Singer defende que algumas questões podem ser resolvidas sem remédios. "Vamos supor que uma criança autista seja muito irritável. Por que isso ocorre? Não será porque o ambiente escolar rígido não permite que ela se encaixe?"
As instituições, diz, devem se tornar mais flexíveis à inclusão de autistas. As escolas, por exemplo, deveriam adotar um modelo que reconheça múltiplas inteligências. "Essa variedade não é uma grande exigência e já existe na Austrália", diz.

Valeria Paradiz criou, nos Estados Unidos, a Aspie, uma escola voltada para crianças autistas. "Aspies" também é o apelido pelo qual alguns portadores da síndrome de Asperger se identificam. Defensora de uma visão "não patológica" do autismo, ela diz que a luta pela neurodiversidade se assemelha a qualquer movimento por direitos civis e que a sala de aula é um dos melhores lugares para ensinar essas crianças a exigir respeito às suas diferenças.

"Aqui, elas começam a aprender os principais elementos da experiência autista, percebem que a forma como o autismo é retratado varia muito e que a própria perspectiva delas é tão válida quanto a de especialistas e qualquer outra."

Para Kika Feier Goulart, mãe de Cibele, que tem 13 anos e é autista, a inclusão escolar é um dos principais desafios no Brasil. "Eles são muito visuais, e os professores não se esforçam para adaptar a aula a essa necessidade. Além disso, ou esperam demais dela, porque há o mito de que todo autista é um gênio, ou esperam menos do que ela pode oferecer."

O outro lado

Uma crítica feita aos grupos que pregam a auto-representação e a anticura é que eles não se referem a todos os autistas, mas apenas àqueles que têm síndrome de Asperger.

Casos de autistas famosos e bem-sucedidos, como a PhD em ciência animal Temple Grandin, ressaltam, são a exceção, não a regra. Estima-se que 70% dos autistas tenham algum tipo de retardo mental. Esse dado vem sendo questionado, pois se acredita que os testes aplicados não eram capazes de contemplar as capacidades dos autistas. Mas muitos pais relatam problemas intelectuais sérios nos filhos.

A crítica vem até de Singer. "Não concordo com pessoas que são obviamente autistas de alta capacidade e alegam falar por 'todos' os autistas", diz. A mãe e a filha de Singer têm a síndrome, e ela criou o primeiro grupo de apoio para pessoas com pais autistas do mundo.

"Nunca tive medo da idéia de que há um lado ruim para a diferença neurológica", diz ela, que acha que autistas não são capazes de criar os filhos sozinhos. "Fomos muito atacados por representantes autistas, que não conseguem lidar com essa idéia. Para mim, a neurodiversidade inclui um quadro realista de prós e contras. Há aspectos do autismo que causam sofrimento, e seria ótimo se isso pudesse ser curado. Mas não acho que exista uma cura capaz de tirar os aspectos negativos e reter a diversidade genética da humanidade."

Não há uma perspectiva de cura para o autismo, pois ainda sequer se sabe o que o causa.

Algumas hipóteses já foram descartadas pela ciência, como a "culpa" dos pais na criação dos filhos e a ação de vacinas, diz o psiquiatra Mercadante. Os estudos atuais são voltados ao papel da herança genética e de alguns fatores ambientais.

O que se sabe é que os cérebros de autistas são diferentes em três áreas principais: a amígdala, ligada à emoção e ao comportamento social, o giro fusiforme e o sulco temporal superior. As duas últimas costumam ser ativadas quando se olha para a face de alguém ou se escuta uma voz humana. Os autistas, ao verem ou ouvirem alguém, ativam outra área, responsável pela identificação de objetos.

O autismo costuma aparecer antes dos três anos --nessa idade, diz Mercadante, há uma "poda neural" que reestrutura o cérebro. Suspeita-se que, nos autistas, essa "poda" seja diferente, alterando alguns circuitos cerebrais. Por isso, crianças autistas podem regredir e até parar de falar nessa idade.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u4160.shtml

Foi o que aconteceu com Natália Boralli. "Ela ficou quase um ano e meio sem falar nada", lembra a mãe dela, Eliana. Até que, no aniversário de três anos da filha, ela a levou a uma loja de artigos para festa e deixou Natália livre para observar tudo. A menina ficou encantada com os enfeites da boneca Moranguinho, e Eliana decidiu decorar a casa com o tema, esperando vencer um pouco a barreira emocional do autismo.

"Coloquei tudo ao redor dela e disse: 'Isso é para você, porque é seu aniversário e eu te amo'. Então, ela, que nunca fixava o olhar em nós, me olhou por cinco segundos e disse 'mã'."

AUTISMO: Para autista, simulação de "jeito normal" é prejudicial

Para autista, simulação de "jeito normal" é prejudicial

AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo

Jim Sinclair,44, é autista, tem formação universitária em psicologia e é especialista em desenvolvimento infantil e processos de reabilitação. Nos anos 90, participou da criação de um dos primeiros grupos formados por autistas, a Autism Network International (ani.autistics.org), e se tornou um dos mais conhecidos ativistas pela defesa dos direitos dessas pessoas. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha.

FOLHA - Quais são as diferenças entre um grupo formado por especialistas e parentes e um formado pelos próprios autistas?

JIM SINCLAIR - Eu diria que grupos de pais e especialistas têm uma maior tendência a ter objetivos "protetores" (trabalhar para nos manter em segurança), enquanto os grupos formados por autistas para eles mesmos tendem a ter metas mais relacionadas a direitos e liberdade, mesmo quando isso envolve correr riscos. A maior diferença reside no simples fato de um grupo ser dirigido "para" pessoas autistas, e outro, "por" pessoas autistas. Imagine um grupo destinado a promover os direitos das mulheres que fosse criado e dirigido por homens. Isso serviria? Você consegue imaginar um motivo pelo qual um grupo de mulheres não deva ser dirigido por elas? Que mensagem esse grupo transmitiria sobre a capacidade de as mulheres fazerem as coisas por conta própria?

FOLHA - Você critica as estratégias para ensinar os autistas a "simular" um comportamento social normal. Não é útil para os autistas saber como se comunicar com as outras pessoas?

SINCLAIR - Claro que é. E também seria útil para as outras pessoas saber como se comunicar conosco. Mas isso não é o mesmo que exigir uma simulação tão perfeita que torne impossível nos distinguir dos "neurotípicos". Suponha que, em vez de tentar entender o que você diz, eu me recusasse a responder suas perguntas a menos que você dominasse a língua inglesa como uma nativa e sem sotaque. Suponha, além disso, que eu diga que, para se comunicar com quem fala inglês, você tenha de parar de falar português, de se relacionar com quem fala português e até de pensar em português. Suponha que eu tentasse convencê-la de que o português é inferior ao inglês, de que você teria uma vida inexoravelmente vazia sem dominar inglês e de que você deveria se envergonhar se algum dia for vista falando português. Isso é semelhante ao que os "neurotípicos" fazem quando ensinam "habilidades sociais" a autistas.

FOLHA - Quais são as principais características da cultura autista?

SINCLAIR - Não há uma única cultura autista, assim como não há só uma cultura "neurotípica". Posso falar sobre a que evoluiu com a ANI, mas podem haver outras. Na ANI, há práticas como o respeito à hipersensibilidade sensorial dos autistas e outras envolvendo ecolalia (repetição da fala do outro). Há ainda certas tradições como o uso dos Interaction Signal Badges [crachás com dados sobre cada um, como hipersensibilidade a cheiros fortes ou a flashes fotográficos].

FOLHA - A ANI foi criada por autistas que se encontraram numa lista de discussão. Essa rede pode incluir aqueles que não têm as mesmas habilidades verbais?

SINCLAIR - Sim. Há pessoas com menos habilidade verbal que vêm para a Autreat (conferência anual da ANI) e se divertem muito. É difícil incluir pessoas que não são verbais em redes que ocorrem on-line, já que o e-mail é um meio verbal. Mas, quando há uma chance de os autistas ficarem juntos ao vivo, é definitivamente possível que eles participem também.

AUTISMO: Genial em cálculos, inglês teve de vencer barreiras do autismo

Genial em cálculos, inglês teve de vencer barreiras do autismo

AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo

À primeira vista, o inglês Daniel Tammet, 28, parece um jovem comum. É fã dos Beatles, gosta de viajar e de namorar, tem uma escola de idiomas que garante sua independência financeira e sabe cozinhar.
Mas Daniel não é comum. E o que o torna extraordinário é justamente a capacidade de realizar todas essas atividades, aparentemente simples. Daniel é autista e tem a rara síndrome de savant, um distúrbio psíquico que confere a seus portadores memória prodigiosa e genialidade em cálculos, mas que, geralmente, os condena a uma incapacidade de interagir com os outros.
O caso mais famoso da síndrome é o do norte-americano Kim Peek, que inspirou o personagem Raymond Babbit, interpretado por Dustin Hoffman no filme "Rain Man" (1988). Assim como a maioria dos savants, Kim também tem autismo. Ele aprendeu a ler aos 16 meses de idade e consegue ler duas páginas de um livro simultaneamente, retendo quase 100% das informações --memorizou todo o conteúdo de mais de 9.000 livros.
Aos 56 anos, porém, ele depende dos cuidados do pai em tempo integral para sobreviver.
Daniel, inexplicavelmente, conseguiu superar essas barreiras. Sua independência e sua capacidade de comunicação o transformaram em um valioso "dicionário" da síndrome de savant para neurocientistas. Se os savants fazem cálculos complexos em segundos, Daniel vai além e explica como consegue fazer isso.
Cada número, diz, corresponde, em sua mente, a uma cor, textura, formato ou sentimento: o número um, por exemplo, é como um feixe de luz, já o cinco tem som de trovoada --reação conhecida como sinestesia. Ao fazer uma conta, essas cores e sons se misturam, e o resultado aparece diante de seus olhos, como uma nova imagem.
O mecanismo também o ajuda a decorar informações longas: é dele, por exemplo, o recorde europeu de memorização do pi --um número que corresponde à divisão da circunferência pelo diâmetro de um círculo. O pi começa com 3,1416 e segue infinitamente. Em março de 2004, Daniel passou cinco horas e nove minutos recitando o número: foram 22.514 dígitos, acompanhados por jurados que conferiam a seqüência correta em centenas de páginas de papel.
Para o jovem savant, a tarefa equivalia a se lembrar de uma paisagem: só que, em vez de árvores, casas e riachos, ele via algarismos.
Após a proeza, veio a fama. Um canal de televisão inglês realizou um documentário sobre sua vida ("The Boy with the Incredible Brain" --o garoto com o cérebro incrível), e Daniel resolveu contar suas experiências em um livro: "Nascido em um Dia Azul", que acaba de ser lançado no Brasil.
"Escrever o livro foi terapêutico", disse Daniel à Folha, por telefone, de sua casa em Kent, no sudeste da Inglaterra. "Isso realmente me ajudou a ter uma melhor compreensão de quem sou, da vida que tenho, da jornada que fiz. O diagnóstico da síndrome de Asperger [um tipo de autismo] não foi feito até 2004 porque, quando eu era criança, não estava disponível. Escrevi o livro um ano depois e isso me ajudou a colocar minha vida numa perspectiva, num contexto."
Sua voz é suave e ele se mostra gentil e amigável durante a entrevista. Estabelecer uma conversa com desconhecidos, porém, foi algo extremamente difícil para ele ao longo de muitos anos. Daniel foi uma criança quieta e sem amigos.
Na escola, passava o recreio sozinho, contando as pedras no chão ou fazendo contas. Não se interessava por outras crianças e, quando elas zombavam dele, apenas tapava os ouvidos e tentava pensar em números que evocassem imagens bonitas.
Foi na adolescência que ele começou a sentir necessidade de se relacionar com os outros. Mas essa interação lhe parecia muito complexa: as pessoas eram imprevisíveis demais para um garoto que buscava lógica e padrões matemáticos em tudo.
Numa conversa, podiam mudar de assunto de uma hora para a outra e esperavam que ele entendesse coisas que não eram ditas claramente. Isso o deixava inseguro e frustrado.
"Pessoas com autismo acham importante ter rotina, segurança, estabilidade. O mundo é hiperestimulante porque tem tanta gente, tanto barulho, tanta informação... Autistas têm mais dificuldade para lidar com isso. A rotina deixa tudo mais fácil. Por isso, tento tomar o mesmo café da manhã todos os dias. É um pequeno ritual que me faz sentir seguro", conta ele, que come exatamente 45 gramas de mingau todas as manhãs. E usa uma balança eletrônica para ter certeza disso.
Para enfrentar essas limitações, Daniel --que, quando bebê, chorava se o pai mudasse o caminho para a creche-- resolveu se mudar para a Lituânia, na Europa báltica, onde trabalhou por um ano como professor voluntário de inglês.
Além de aprender a lidar com situações imprevistas, ele descobriu mais uma aptidão: a facilidade para idiomas. Para Daniel, os sons também evocam cores e sensações (as palavras que começam com "t" são laranjas, por exemplo), e isso o ajudou a aprender dez línguas de forma autodidata.
Divisor de águas
A viagem à Lituânia, diz Daniel, foi um "divisor de águas", que o preparou para o que veio depois. "O documentário e o livro mudaram minha vida. Ninguém imaginava quão bem-sucedidos eles seriam. Tenho tido a oportunidade de viajar muito. Há poucos anos, consideraria isso inimaginável. Mas tenho crescido muito em autoconfiança. Recentemente dei uma série de palestras nos EUA onde havia milhares de pessoas. E, ainda assim, não foi difícil ficar em pé e falar, pois adoro compartilhar minha história."
Daniel atribui o sucesso do livro, já traduzido para 16 idiomas, ao fato de muitas pessoas, mesmo sem autismo, compartilharem com ele essa sensação de deslocamento em suas comunidades. "Elas se identificam. São, de alguma forma, diferentes de outras pessoas, com dificuldade para aprender qual é seu lugar no mundo. Meu livro parece significar algo para essas pessoas", diz ele, que agora se dedica ao seu segundo livro, sobre inteligência, memória e aprendizagem.
Além da carreira, a vida pessoal também vai muito bem, obrigado. Há alguns anos, Daniel mora com o companheiro, Neil --"que é bonito como o número 11". E como lidar com algo tão imprevisível e fora de padrões lógicos?
"O amor era uma grande questão para mim. Eu não era capaz nem de pensar sobre esse tema quando era adolescente --lia tudo que podia sobre isso. Uma coisa que me ajudou foram os contos de fadas, todos com lindas idéias sobre relacionamento, sobre como alguém pode se sentir confortável onde vive. Por meio dessas histórias, eu gradualmente me tornava hábil para entender o amor."
A resposta da equação, descobriu, era a aceitação. "Grande parte da nossa vida está fora de controle. Eu não escolhi ser autista, assim como não escolhi ser inglês. Então, eu tive de aprender como ser eu mesmo. E amar é uma parte importante disso, pois é sobre aceitação. Aceitação do outro e de si mesmo, assim como do mundo. Quando você aceita o mundo, você pode amá-lo, quando aceita as pessoas, pode amá-las. E, quando você se aceita, pode se amar também."
Pergunto o que ele faria se descobrissem uma cura para o autismo. Ele fica em silêncio por alguns instantes. "Acho que depende do tipo do autismo. Alguns autistas são como eu, capazes de ter um relacionamento, uma carreira. Mas há formas muito mais severas, que não permitem ter uma vida normal. Eu certamente espero que cientistas encontrem um modo de tratar essas formas de autismo, para que essas pessoas possam falar, ter amigos e ter a oportunidade de aceitar a si mesmas e ao mundo em volta delas. Meu autismo eu aprendi a aceitar. Se eu mudá-lo, mudarei a mim mesmo. E eu sou muito feliz. Eu gosto de mim."

AUTISMO: Brasil desenvolve metodologia para detectar autismo em crianças

Brasil desenvolve metodologia para detectar autismo em crianças

CLÁUDIA COLLUCCI
da Folha de S.Paulo

Um método para diagnosticar o autismo por meio de exame de imagem está sendo desenvolvido pelo Instituto Fernandes Figueira, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Atualmente, não há nenhum teste específico para o autismo. O diagnóstico é clínico, com base na observação dos sintomas.
Os pesquisadores utilizam o eletroencefalograma computadorizado para fazer uma varredura cerebral. O exame amplia e mede as correntes eletromagnéticas no cérebro em diversas frequências (de 3 a 27 hertz) e permite verificar as ligações entre os grupos de neurônios.
Segundo o neurologista infantil Adaílton Tadeu Alves de Pontes, um dos coordenadores da pesquisa, as imagens obtidas com o mapeamento são comparadas com as do cérebro de uma criança sem o problema.
"Verificamos a relação de uma área com outra e percebemos que as crianças com autismo tiveram uma resposta diminuída no hemisfério cerebral direito em relação ao esquerdo, ou seja, há uma deficiência de ativação no hemisfério direito."
Pontes explica que o hemisfério direito está associado às funções socioafetivas, emocionais, de empatia e de percepção do contexto e compreensão social, enquanto o hemisfério esquerdo é mais relacionado com o cálculo e o raciocínio.
O próximo passo, segundo ele, é ampliar a amostra de crianças analisadas, incluindo autistas com inteligência normal e outros com problemas de linguagem, por exemplo. Por fim, haverá uma comparação dessas crianças com outras que possuam patologias neuropsiquiátricas diferentes -para saber como funciona a resposta cerebral nesses casos.
Pesquisas anteriores com cérebros de autistas já encontraram desequilíbrios em neurotransmissores (substâncias químicas que ajudam as células nervosas a se comunicarem) que poderiam explicar o comportamento do autista.
Outros trabalhos encontraram irregularidades nas próprias estruturas do cérebro, como no corpo caloso (que facilita a comunicação entre os dois hemisférios do cérebro), na amígdala (que afeta o comportamento social e emocional) e no cerebelo (envolvido com as atividades motoras, o equilíbrio e a coordenação).
Na avaliação do neurologista José Geraldo Speciali, da USP de Ribeirão Preto, caso a eficácia do eletroencefalograma no diagnóstico do autismo seja confirmada, será "uma ótima notícia" porque hoje o autismo é descoberto tardiamente. "Porém, ainda não sabemos se o diagnóstico e a intervenção precoces mudarão o curso da doença", observa.
Para o médico Luiz Celso Vilanova, chefe do departamento de neurologista infantil da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a pesquisa da Fiocruz é mais uma que tenta encontrar um marcador biológico para o diagnóstico do autismo, mas dificilmente chegará a uma resposta positiva.
"Ela pode trazer novas contribuições, mas outros trabalhos, com métodos até mais sofisticados como a ressonância magnética e o PET scan, não conseguiram definir um quadro que sirva de marcador independente", diz o médico.
Segundo ele, a limitação é da própria medicina. "No passado, essas crianças eram classificadas como psicóticas. Existem algumas evidências de alterações de natureza biológica e cerebral, mas nada que nos ajude no diagnóstico."
Hoje, o diagnóstico ocorre por volta dos três anos de idade, e o tratamento é basicamente comportamental (psicólogos e fonoaudiólogos, por exemplo). Medicamentos são usados para controlar sintomas específicos, como a agressividade.

Editoria de Arte/Folha Imagem

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u564246.shtml

AUTISMO: Portador da síndrome de Asperger estuda biomedicina

Portador da síndrome de Asperger estuda biomedicina

DENISE MOTA
colaboração para a Folha de S.Paulo

"Excêntrico", "tímido", "antissocial". Aos 26 anos, Leonardo Ferraz de Castro Araújo sabe que seu modo de ser provoca estranheza, e os epítetos que recebe não são novidade para o recifense, estudante de biomedicina na Universidade Federal de Pernambuco e diagnosticado há seis anos como portador da síndrome de Asperger.
"Sinto-me uma pessoa normal, com minhas idiossincrasias, não como alguém com um transtorno que deva ser debelado a todo custo", afirma.
A síndrome de Asperger foi descrita em 1944, mas somente há 15 anos é reconhecida oficialmente. Trata-se de um transtorno do desenvolvimento caracterizado por deficit na sociabilidade. Os áspergueres --ou "aspies", como eles se definem-- têm geralmente interesses restritos por certas áreas do conhecimento ou temas, dificuldade em se adequar a condutas sociais entendidas como normais e linguagem "sem atraso, porém repetitiva e formal", como enumera Letícia Amorim, psiquiatra e mestre em psicologia pela USP.
A síndrome de Asperger pode ser entendida como uma espécie de autismo, uma vez que esse problema é compreendido atualmente pela medicina como uma disfunção comportamental em que os sintomas variam de acordo com o comprometimento cognitivo, conforme explica a psiquiatra.
Manter uma vida social é um dos grandes desafios dos "aspies", e é nisso que Leonardo vem se empenhando e avançando, ainda que seus patamares sejam considerados "insuficientes para a maioria das pessoas", como constata. Além de almejar uma melhoria em termos pessoais, o estudante se esforça para combater "o famoso estereótipo do autista inepto" ou "em seu próprio mundo". "O autismo não denota uma vida fadada ao fracasso nem à exclusão", diz.
À tarde, ele frequenta aulas na universidade e sessões com uma psicóloga que o acompanha há um ano e meio. Mas sua rotina é variável. Se, há algum tempo, uma simples mudança de sala podia lhe provocar tremores e taquicardia, hoje é a manutenção dos mesmos afazeres, horários e itinerários o que o exaspera.
Mas, apesar de estar mais tolerante às pequenas novidades que pontuam o cotidiano, situações ou mesmo detalhes aos quais não está habituado ainda lhe causam mal-estar. "Recentemente, uma lâmpada foi trocada na minha casa e fiquei importunado por vários dias porque a cor da luz é diferente."
Além da consciência de suas limitações e características --"me comunico melhor por e-mail e sou verborrágico [ao escrever]", avisou logo ao ser convidado para falar sobre a síndrome para a Folha, por exemplo--, uma marca de Leonardo é a sinceridade.
"Meus principais problemas são a socialização muito pobre e a pouca comunicação verbal. Falo muito pouco e, quando falo além do normal, incorro naqueles problemas de não esperar a vez do outro, por exemplo", descreve. "Com a idade superei em muito meus problemas da síndrome, mas a socialização ainda me deixa frustrado. Os poucos amigos que souberam de minha condição foram os da faculdade, e sempre fui tratado como normal."
Respostas
O estudante tem uma irmã mais nova, "perfeitamente normal", e diz receber apoio diário dos pais, tios e avós, apesar de a síndrome gerar mais instabilidade "do que uma relação entre pais e filhos ditos normais".
Pelo fato de se caracterizar por sinais, e não por exames específicos ou marcadores biológicos, detectar o problema depende da observação da família e da perícia profissional. Uma vez diagnosticado, o ideal é que os pais "tentem compreender as peculiaridades" de seus filhos, "potencializar suas habilidades e driblar suas dificuldades", aconselha Amorim.
"A principal característica é o deficit na interação social por terem dificuldade de perceber que os outros são diferentes deles e que têm experiências diferentes. São capazes de falar por muito tempo sobre temas que lhes agradam sem se darem conta do desinteresse do interlocutor. A linguagem é formal e monótona e tendem a focar detalhes", descreve a especialista, criadora do C.A.S.A. (Clube de Amigos da Síndrome de Asperger), ligado ao Instituto de Psicologia da USP e que promove encontros sobre o tema.
Desde 2001, Leonardo integra a rede Asperger Brasil, no Yahoo, formada por pessoas acometidas pela síndrome, familiares e profissionais ligados ao transtorno. Em conversas diárias, "aspies" de todo o Brasil trocam experiências, descobertas e informações.
"Criei o Asperger Brasil porque percebi que o grupo "autismo" não atendia às necessidades de autoconhecimento dos áspergueres. A pessoa ásperguer não se encontra no mundo", afirma o geólogo paulistano Argemiro Garcia, secretário da Abraça (Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo).
"Somente quando entrei para o grupo e passei a pesquisar acerca da síndrome é que tive a certeza de tê-la. Lá, soube que meus problemas com sensibilidade do tato, sons, medos de ruídos, estereotipias (no meu caso, girar dedos, mãos e braços), peculiaridades na fala (eu repetia palavras) e até abordar pessoas estranhas para falar de assuntos de meu interesse eram característicos do autismo e da síndrome", diz Leonardo. "Encontrei respostas para meu jeito de ser tão estranho, que eu sabia ser algo além de depressão ou ansiedade, que era o que os médicos diziam."
Aos que enfrentam a síndrome, Leonardo aconselha: "Usem de seus meios para melhorar a socialização -psicólogos, grupos de ajuda, instituições que organizam eventos para fomentar a interação social e até mesmo a internet".
Na vida adulta, continua ele, a dica é "tentar seguir áreas nas quais sejam talentosos e respeitar seus limites, mas não duvidem de suas capacidades". E, aos pais, um pedido: "Jamais desistam de desenvolver as habilidades de seus filhos e sejam compreensivos quando começarem a ter responsabilidades".

Criança com atraso na fala pode precisar de ajuda profissional

Criança com atraso na fala pode precisar de ajuda profissional

 
PERRI KLASS
do New York Times

Não há nada simples na fala, nem no atraso da fala - a começar pelo desafio de seu diagnóstico.
Todo pediatra conhece a frustração de tentar qualificar habilidades da fala e da linguagem de uma criancinha que chora. Quantas palavras ele consegue dizer? Ela consegue colocar duas ou mais palavras juntas numa frase? Outras pessoas, que não você, conseguem entendê-lo quando ele fala? Perguntas como essas, feitas aos pais, são os parâmetros rápidos e crus que muitas vezes usamos.
Crua ou não, a avaliação é crucial: quanto mais cedo ela é feita, mais cedo a criança com atraso na fala pode receber ajuda. Quanto mais cedo a ajuda, melhores as perspectivas.
"O médico que entende o atraso na fala entende o desenvolvimento infantil", afirmou James Coplan, pediatra de desenvolvimento neural em Rosemont, Pensilvânia, que criou um método para medir a linguagem da criança, do nascimento até os 3 anos.
"As crianças no primeiro ano entendem grande parte do que ouvem ao seu redor", disse Diane R. Paul, diretora do grupo de questões clínicas em patologia da linguagem e da fala. Crianças de um ano, ela continuou, "começam a usar palavras soltas, seguir orientações simples, apontar para partes do corpo e ouvir histórias simples". Com cerca de 2 anos, elas começam a unir palavras; aos 3, elas devem usar frases de, no mínimo, três palavras.
As primeiras expressões podem ser simples, mas o que as produz é muito complexo. Quando uma criança não alcança esses marcos, pode haver várias razões. Coplan, que também é autor do livro "Making Sense of Autistic Spectrum Disorders" (Random House, 2010), afirma observar o atraso na fala num contexto bastante amplo, da cognição à comunicação. Será que é um problema puramente relacionado com a fala e a linguagem, ou há um atraso mais amplo? Será que algo deu errado nas relações sociais da criança?
A primeira coisa é perguntar se a criança pode ouvir. Hoje, todos os recém-nascidos têm sua audição examinada antes de deixar a maternidade, mas exames posteriores podem captar perdas de audição progressivas ou adquiridas.
Próxima pergunta: e o resto do desenvolvimento da criança? O atraso na fala e na linguagem pode ser uma forma como pais e pediatras notam pela primeira vez um atraso mais amplo no desenvolvimento.
"Você pode observar atrasos na linguagem receptiva, no uso de habilidades visuais, como apontar, habilidades de adaptação, como usar uma colher ou um lápis de cera", disse Coplan. "Uma criança de 1 ano e meio que não segue comandos, que não usa uma colher para cavar, isso é um atraso mais amplo".
Questões de fala e linguagem também podem ser indícios precoces de transtornos de neurodesenvolvimento, incluindo as várias formas de autismo. Nem todas as crianças com autismo têm fala atrasada, embora muitas vezes elas não usem suas palavras para se comunicar; uma criança assim pode ter memorizado o alfabeto, disse Coplan, sem nunca der aprendido a dizer "mamãe e papai".
Se o desenvolvimento e a audição da criança estão bem, uma questão é considerar o ambiente. Alguém conversa com o bebê? Algo está atrapalhando - talvez um lar excepcionalmente caótico, talvez um pai depressivo? O desenvolvimento da linguagem e da fala exige estímulo.
Pediatras foram culpados no passado por serem lentos na realização de diagnóstico de atraso na fala, mas os tempos são outros; Coplan reconheceu a defesa dos pais e programas federais de intervenção precoce, que fazem com que crianças com menos de 3 anos possam receber uma avaliação gratuita.
"Acho que os médicos, agora que têm um lugar aonde mandar as crianças, estão muito mais propensos a fazê-los, em vez de dizer: 'Vamos aguardar para ver'", disse ele. "Não encontro as histórias de terror que ouvia 20, 30 anos atrás, quando os pais diziam: 'Passamos por cima das objeções do nosso médico'".
Ainda assim, como pediatra, nem sempre gerenciei bem os pais. Uma vez cuidei de um menino com quem me preocupava. Na sala de exames, ele parecia não ter habilidades normais de comunicação; cada vez mais eu tinha certeza que ele tinha algum grau de autismo.
Achei que ele não estava aprendendo palavras, mas temia muito mais porque, até onde eu sabia, ele não fazia contato visual, nunca respondia de forma clara a qualquer coisa que seus pais diziam ou faziam, porque parecia desconectado de alguma forma.
Os pais do menino desprezaram minhas preocupações e se recusaram a consultar outro médico indicado. Quando ele estava em casa com a avó, insistiam os pais, o menino conseguia se comunicar perfeitamente. Ele não precisava de ajuda.
Nesse caso, fiz o diagnóstico certo, mas minhas próprias habilidades de comunicação não foram suficientes. Houve também o caso em que garanti aos pais: sua filha pode não falar tanto quanto a irmã quando tinha essa idade, mas ela diz muito mais que o mínimo para uma criança de 2 anos, ela entende tudo que vocês dizem e consegue obedecer a comandos complexos. Vamos aguardar para ver, vamos dar um tempo. Será que acertei dessa vez?
Os pediatras são sempre lembrados a ficarem atentos a atrasos na fala e na linguagem --não dar de ombros e simplesmente dizer que os meninos começam a falar depois das meninas, ou que irmãos mais novos começam a falar mais tarde em relação aos mais velhos. Esses fatores podem contribuir para uma variação normal, mas eles não deveriam ser usados para explicar o motivo pelo qual uma criança não alcança os marcos essenciais.
Como todo pediatra sabe, os verdadeiros especialistas nessa história são os patologistas de fala e linguagem.
Paul deu dicas genéricas a pais que querem melhorar as habilidades de comunicação de seus filhos: "Fale com sua criança sobre o que elas estão focadas. Leia para seu filho com frequência. Se eles são de uma família bilíngue, fale e leia para a criança na língua com a qual você se sente mais confortável. Fale claramente e de forma natural, use palavras reais. Mostre empolgação quando a criança fala".
E ouça o que a criança tem a dizer.

AUTISMO: Terapia precoce pode ajudar a prevenir autismo

Terapia precoce pode ajudar a prevenir autismo

APRIL DEMBOSKY
DO "THE NEW YORK TIMES"

Três anos se passaram desde que Diego recebeu o diagnóstico de autismo, aos 2 anos de idade. Desde então, sua mãe Carmen Aguilar já fez incontáveis contribuições para as pesquisas sobre a síndrome.
Ela doou todos os tipos de amostras biológicas e concordou em manter um diário de tudo o que come, inala ou esfrega na pele. Uma equipe de pesquisadores presenciou o nascimento de seu segundo filho, Emilio. A placenta, algumas amostras de tecido da mãe e as primeiras fezes do bebê foram colocados em um recipiente e entregues para serem analisados.
Atualmente, a família participa de outro estudo: uma iniciativa de vários cientistas norte-americanos que buscam identificar sinais de autismo em crianças a partir dos 6 meses (até hoje, a síndrome não pode ser diagnosticada de forma confiável antes dos 2 anos de idade). No Instituto MIND , no Davis Medical Center da Universidade da Califórnia, os cientistas estão observando bebês como Emilio em um esforço pioneiro para determinar se eles podem se beneficiar de tratamentos específicos.
Assim, quando Emilio mostrou sinais de risco de autismo na sua avaliação de 6 meses não fazia contato visual, não sorria para as pessoas, não balbuciava, mostrava interesse incomum por objetos seus pais aceitaram de imediato o convite para que ele participasse de um programa de tratamento chamado "Infant Start".
O tratamento consiste de uma terapia diária, chamada "Early Start Denver Model" (ESDM), baseada em jogos e brincadeiras. Testes aleatórios têm demonstrado que a técnica melhora significativamente o QI, a linguagem e a sociabilidade em crianças com autismo. Além disso, os pesquisadores dizem que quanto antes tiver início o tratamento, maior será potencial de sucesso.
"No fundo, o que podemos fazer é evitar que uma certa proporção de autismo ocorra", explica David Mandell, diretor adjunto do Centro de Pesquisas de Autismo do Hospital Pediátrico da Filadélfia. "Eu não estou dizendo que estas crianças estão sendo curadas, mas podemos estar alterando suas trajetórias de desenvolvimento ao intervir precocemente, para que elas nunca sigam o caminho que leve à síndrome. É impossível conseguir isso se ficarmos esperando o completo surgimento da doença."
Sally Rogers, a cientista do Instituto MIND que acompanha a família Aguilar, conta que já enfrentou muitos desafios na adaptação da terapia de crianças de mais de um ano para os bebês.
Mesmo os bebês com desenvolvimento normal para a idade ainda não podem falar ou gesticular, muito menos fingir. Em vez disso, Rogers pede que os pais prestem atenção no balbuciar e nas interações sociais simples que ocorrem durante as rotinas normais de alimentar, vestir, dar banho e trocar o bebê.
Durante a primeira sessão com Emilio, de 7 meses, Sally demonstrou aos pais Carmen e Saul jogos de esconde-esconde, cócegas e outras brincadeiras de interação com pessoas. Ela falou sobre as 12 semanas seguintes e como eles fariam para que Emilio trocasse sorrisos, atendesse pelo nome e balbuciasse, começando com uma única sílaba ("ma"), depois passando para duas ("gaga") e mais adiante para combinações mais complexas ("maga").
"A maioria dos bebês vem ao mundo com uma espécie de ímã embutido que atrai as pessoas", explica Sally. "Uma coisa que sabemos sobre o autismo é que ele enfraquece esse ímã. Não é que não se interessem, mas eles têm um pouco menos de atração pelas pessoas. Então, como podemos aumentar nosso apelo magnético para chamar sua atenção?"
A lição número um foi o contato visual. Sally pediu que os pais se revezassem para brincar com Emilio, incentivando-os a ficar cara a cara com o bebê e permanecer na sua linha de visão. Carmen Aguilar inclinou-se sobre o cobertor azul e sacudiu um brinquedo. "Emilio? Onde está o Emilio?"
Do outro lado do espelho de duas faces, um pesquisador acompanhava a sessão e um assistente monitorava três câmeras de vídeo na sala. Sally Ozonoff, que foi a primeira a escolher Emilio para o estudo, parou para observar.
"Ele está olhando apenas para o objeto, embora o rosto de sua mãe esteja a oito centímetros de distância", disse ela. "Ele tem um rosto muito sóbrio e tranquilo".
Saul Aguilar foi o próximo a tentar. Ele colocou Emilio em uma cadeira vermelha feita de um saco de sementes e dobrou os lados sobre o bebê. "Chuá, chuá, chuá!", fez Saul. Nenhuma resposta.
Ele levantou Emilio para cima de sua cabeça e imitou um avião. Emilio olhou para o teto.
Então Saul colocou o bebê de volta na cadeira e pegou um lobo de pelúcia. Pôs o lobo sobre a cabeça e deixou-o cair em suas mãos. "Pschooo! Uuooó!" Finalmente, Emilio olhou.
"Isso foi ótimo", disse Sally Rogers ao pai do bebê. "Você colocou o brinquedo sobre a cabeça e ele foi atraído para o seu rosto. Você usou o brinquedo para melhorar a interação social. Ao trazê-lo até o seu rosto, Emilio percebe você."
Embora as causas do autismo ainda sejam um mistério, os cientistas concordam que existe algum fator genético ou biológico envolvido. Tratamentos experimentais como o "Infant Start" visam abordar o ambiente social em que o bebê vive, para descobrir se as mudanças em casa podem alterar o desenvolvimento biológico da doença.
"As experiências formam os cérebros dos bebês de uma maneira muito física", explica Sally. "As experiências determinam as sinapses; algumas são construídas e outras são dissolvidas."
Na teoria, se um bebê prefere objetos em vez de rostos, uma "cascata de desenvolvimento" pode começar: os circuitos cerebrais que nasceram para a leitura facial são usados para outro fim, como o processamento da luz ou de objetos. Assim, os bebês perdem a capacidade de entender os sinais emocionais transmitidos pela observação de expressões faciais. Quanto mais tempo o cérebro de um bebê seguir este curso de desenvolvimento, mais difícil torna-se a intervenção.
Entretanto, o esforço de frear o autismo através de intervenções antecipadas apresenta um problema científico.
Como não existe um diagnóstico formal de autismo antes dos 2 anos, é impossível distinguir entre os bebês que são ajudados pela intervenção e os que jamais teriam desenvolvido autismo. Os pesquisadores precisam obter uma série de avanços com bebês como Emilio antes de fazer um estudo aleatório, comparando os bebês que recebem o tratamento com aqueles que não o recebem.
Os pais de Emilio estão felizes por seu filho participar da primeira fase do programa piloto. Eles viram o filho mais velho, Diego, progredir tanto na terapia comportamental entre as idades de 3 e 5, que ficam muito esperançosos com o que poderá acontecer com o mais novo.
Saul Aguilar largou o emprego em uma empresa de telecomunicações para cuidar de Emilio e trabalhar em seus objetivos todos os dias. Carmen Aguilar havia deixado seu emprego de assistente social quando o primeiro filho recebeu o diagnóstico. Mas os planos para o futuro tiveram que ser revistos depois da avaliação de 6 meses de Emílio.
"Eu sou a primeira pessoa da minha família a ir para a universidade", diz Carmen Aguilar. "Meu pensamento foi: 'agora já preparei o futuro de meu filho'."
Mas, depois de saber que Emilio também pode ter autismo, ela diz que "você para de olhar para tão longe no futuro; somos forçados a pensar um dia de cada vez".

AUTISMO: Crianças autistas têm mais dificuldade para achar objetos

Crianças autistas têm mais dificuldade para achar objetos

DA FRANCE PRESSE

As crianças autistas têm mais dificuldade de encontrar objetos em um espaço determinado --como, por exemplo, um par de sapatos em um quarto-- e este transtorno afeta de maneira importante sua capacidade para agir de modo independente, segundo um estudo publicado na segunda-feira (20).
As conclusões chocam-se com pesquisas anteriores que afirmavam que os jovens autistas eram dotados de capacidades visuais de busca excepcionais.
Os pesquisadores pediram para 40 crianças da mesma idade --a metade autistas-- encontrar o mais rápido possível uma luz vermelha escondida entre 16 verdes. Para a luz vermelha acender, as crianças deveriam apertar as luzes verdes.
Os pesquisadores colocaram 80% das luzes verdes de um lado. E ali a luz vermelha tinha mais chances de ser encontrada.
O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Bristol, no Reino Unido, e publicado nos anais da PNAS (Academia Nacional Americana de Ciências) com data de 21 a 25 de dezembro, indicou que não foi observado nenhum comportamento "organizado" entre os autistas.
Pelo contrário, estas crianças mostraram-se menos eficazes e mais desordenadas em sua busca que outras crianças não autistas, segundo o estudo.

AUTISMO: Robô ajuda crianças inglesas com autismo a identificar emoções

Robô ajuda crianças inglesas com autismo a identificar emoções

DA ASSOCIATED PRESS

Eden Sawczenko se retraía quando outras meninas seguravam sua mão e ficava imóvel quando a abraçavam.
Neste ano, Eden, de quatro anos, que sofre de autismo, começou a brincar com um robô que ensina sobre emoções e contato físico.

Alastair Grant/AP
Eden Sawczenko, 4, que tem autismo, reage ao robô Kaspar, em escola ao norte de Londres
Eden Sawczenko, 4, que tem autismo, reage ao robô Kaspar, em escola ao norte de Londres
"Ela está mais afetuosa com seus amigos e, agora, até toma a iniciativa de abraçar", afirma Claire Sawczenko, mãe da menina.
Eden frequenta uma pré-escola para crianças autistas em Stevenage, ao norte de Londres, onde pesquisadores levam um robô com feições humanas do tamanho de uma criança uma vez por semana para uma sessão supervisionada.
As crianças, cujos níveis de autismo variam de leve a severo, brincam com o robô por dez minutos, enquanto um cientista controla o aparelho por controle remoto.
O robô, chamado Kaspar, é programado para sorrir, franzir, rir, piscar e balançar os braços. Foi construído por cientistas da Universidade de Hertfordshire a um custo de 1.300 libras (R$ 3.475).
Kaspar ainda está em fase experimental, e os pesquisadores esperam que ele possa ser produzido em massa por um preço menor.
INTERAÇÃO
O robô faz poucos truques, como dizer: "Olá, meu nome é Kaspar. Vamos brincar". Ele ri quando encostam em suas laterais ou nos seus pés, levanta os braços e, se leva um tapa, põe as mãos no rosto e grita: "Ai, isso dói".
"Crianças com autismo não reagem bem às pessoas porque elas não entendem as expressões faciais", diz Ben Robis, pesquisador de ciências da computação na Universidade de Hertfordshire e especialista em autismo.
"Robôs são mais seguros para elas porque há menos a interpretar, eles são bem previsíveis", afirma.
Há projetos similares no Canadá, no Japão e nos EUA, mas a pesquisa inglesa é uma das mais avançadas. Até agora, cerca de 300 crianças com autismo já brincaram com Kaspar naquele país.
Especialistas sem ligação com o projeto afirmam que a ideia é promissora.
Para Abigael San, representante da Sociedade Britânica de Psicologia, é possível que as crianças transfiram o que aprenderam com o robô para suas casas.
Mas ela alerta que especialistas e pais não podem depender tanto assim de robôs.
"Não queremos que crianças com autismo fiquem muito acostumadas aos robôs. Elas precisam aprender a se relacionar com pessoas."
Kerstin Dautenhahn, pesquisadora da Universidade de Hertfordshire e responsável pelo projeto, diz que o robô também pode ser usado para crianças com síndrome de Down e outros problemas.

AUTISMO: Psiquiatra de Yale vai lançar enciclopédia sobre autismo

Psiquiatra de Yale vai lançar enciclopédia sobre autismo

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

O psiquiatra Fred Volkmar, 61, professor da Universidade Yale (EUA), está trabalhando em uma enciclopédia, que será lançada no ano que vem, sobre todos os transtornos que se encaixam na nomenclatura do autismo.
Eduardo Anizelli/Folhapress
Fred Volkmar, especialista em autismo e psiquiatra da Universidade Yale, em durante visita a São Paulo em agosto
Fred Volkmar, especialista em autismo e psiquiatra da Universidade Yale, em durante visita a São Paulo em agosto
O americano falou à Folha sobre novas pesquisas que abordam a criação de testes físicos que detectem o autismo em bebês. Volkmar participou também da gravação de um documentário da ONG Autismo e Realidade.
Folha - Por que o autismo precisa de uma enciclopédia?
Fred Volkmar - Tem muita pesquisa sobre autismo saindo todos os dias, é difícil para os pais acompanharem tudo isso. Esse trabalho vai ser referência e vai estar na internet. Isso é importante por causa da explosão do autismo no Google: são mais de 17 milhões de páginas. Os pais ficam muito confusos.
Hoje, o rastreamento de autismo é feito por meio de questionários aplicados aos pais das crianças. Isso não é ruim, mas começa aos 18 meses. As perguntas são coisas muito básicas, do tipo, se o bebê não responde ao próprio nome. Queremos fazer o diagnóstico muito mais cedo para intervir mais cedo.
Enquanto não há teste genético, vai dar para fazer exame físico para autismo?
Há muitas causas para perda de audição, mas ninguém faz teste genético para isso. Você faz um teste de audição. Há a possibilidade de fazer testes de autismo com o mesmo princípio de um teste auditivo, que tenham a ver com fisiologia. Temos dados que mostram que autistas não veem rostos da mesma maneira como as outras pessoas. Esse tipo de coisa pode dar origem a um teste de rastreamento para autismo.
Pode se falar em buscar uma cura para o autismo?
Se falamos sobre ter uma vida independente, sim. O que queremos é que a criança funcione na sociedade. Todo mundo conhece gente excêntrica, há um espectro grande do que se considera normal. Se conseguirmos que a pessoa se encaixe entre o que é considerado normal, estamos satisfeitos. É assim que eu imagino a cura.

AUTISMO:

Hormônio cerebral é testado para tratar pessoa com autismo

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

A ocitocina, hormônio produzido no cérebro e ligado a funções corporais, como o parto e a produção de leite em mulheres, e a relações sociais, como a ligação entre pais e filhos, pode virar tratamento contra autismo. Pessoas com o transtorno têm dificuldade de reconhecer expressões faciais e de criar laços sociais.
O psiquiatra James Leckman, que veio a São Paulo no mês passado, a convite do Instituto de Psiquiatria da USP, está pesquisando o efeito da ocitocina em autistas.
Arte/Folhapress
O médico, que é professor de psiquiatria infantil em Yale, participa de estudo em que voluntários recebem doses de ocitocina e terão seus cérebros examinados em testes de imagem. A pesquisa ainda está em andamento.
Mas trabalhos anteriores com o hormônio mostram que doses intranasais de ocitocina podem melhorar as habilidades sociais do autista.
Um estudo publicado no ano passado na revista "PNAS" descreve os efeitos da ocitocina em um grupo de pessoas com autismo.
O hormônio melhorou o reconhecimento de expressões faciais e a habilidade de interação dos voluntários com autismo em jogo virtual.
Outro exercício exigia que os participantes olhassem para expressões faciais em um computador e identificassem se o rosto era de homem ou mulher e a direção que os olhos apontavam.
Autistas, antes do tratamento com ocitocina, olhavam pouco para o rosto representado na imagem. Após as doses de ocitocina, conseguiram fixar mais seu olhar.
O resultado sugere que a ocitocina reduza a ansiedade dos autistas na hora de fazer contato visual.
Segundo Leckman, ainda é necessário fazer mais testes para determinar se o tratamento é seguro e eficaz. "É diferente ler expressões faciais em um teste e na vida real. Também não se sabe se o hormônio vai fazer diferença a longo prazo."

AUTISMO: Autismo engloba variedade de transtornos sociais

Autismo engloba variedade de transtornos sociais

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
 
 
Se há um estado que desafia as categorias mais comumente utilizadas pelos médicos é o autismo.
Embora ele apresente uma forma clássica facilmente reconhecível, na qual a criança, na maioria das vezes um menino, vive num mundo à parte, praticamente sem linguagem e apresentando movimentos e hábitos muito característicos, os especialistas falam cada vez menos em autismo e mais em transtornos do espectro autista (TEAs).
A ideia é que não se trata de uma moléstia isolada mas de uma série de condições que têm como marca anormalidades nas interações sociais e na comunicação. O autismo clássico é a forma mais dramática, mas há outras, menos graves, nas quais se vive com autonomia total.
Pessoas com síndrome de Asperger não costumam apresentar retardo mental nem incapacidade linguística.
Podem ser bastante inteligentes, com notável percepção para detalhes e interesse obsessivo por alguns assuntos, nos quais se aprofundam até saber tudo. Mas, como não são boas para lidar com gente, é difícil encontrá-las em profissões como psicologia. Procuram ofícios que lidam com objetos ou sistemas, como engenharia, matemática, xadrez competitivo.
Como coloca a psicóloga Susan Pinker, é gente que pega de primeira a teoria das cordas, mas não consegue decodificar os sinais de vergonha na face de uma pessoa.
Além do autismo clássico e da síndrome de Asperger, compõem os TEAs o transtorno de desenvolvimento pervasivo não específico, a síndrome de Rett e o transtorno desintegrativo da infância.
De modo controverso, alguns autores como Simon Baron-Cohen propõem que as TEAs são casos extremos de "cérebro masculino", já que, em testes psicométricos, homens se saem melhor do que mulheres em sistematizações enquanto elas os superam em habilidades sociais.
A hipótese tem amparo da epidemiologia. Há 4,3 meninos com TEA para cada menina. Assim, espectro iria do autismo clássico até a "nerdice" comum dos garotos.
Embora a medicina procure compreender e curar as TEAs, há uma corrente, composta principalmente por portadores da síndrome de Asperger, que defendem que o autismo não é uma doença, mas apenas uma variante neuronal, uma outra forma de ser.

 

AUTISMO: Estudo relacionando vacina a autismo era fraude, diz publicação

Estudo relacionando vacina a autismo era fraude, diz publicação
DA REUTERS
O médico britânico Andrew Wakefield, que publicou estudos relacionando vacinas com autismo e acabou caindo em desgraça, cometeu uma "fraude elaborada" ao falsificar dados, afirmou a "British Medical Journal".
Os editores da publicação disseram não ser possível que Wakefield tenha cometido um erro. Ele deve ter falsificado dados para o estudo, o qual convenceu milhares de pais de que as vacinas são perigosas --fato que motivou o avanço de surtos de caxumba e sarampo.
A publicação, conhecida por suas iniciais BMJ, endossou as afirmações com uma série de artigos de um jornalista. Eles se valeu de registros médicos e entrevistas para mostrar que Wakefield falsificou dados.
Segundo a reportagem, Wakefield incluiu informações de apenas 12 crianças em sua pesquisa, mas estudou pelo menos 13, e diversas mostraram sintomas de autismo antes de terem sido vacinadas.
O temor de que a vacinação pudesse causar autismo fez com que pais deixassem de levar seus filhos para receber as doses e também resultou em custosas reformulações de várias vacinas.
"Quem perpetrou essa fraude? Não há dúvida de que foi Wakefield", disseram em artigo assinado na BMJ a editora Fiona Godle, a subeditora Jane Smith e o editor associado Harvey Marcovitch --o texto está disponível na internet.
Em 1998, a publicação médica The Lancet, rival da BMJ, apresentou um estudo de Wakefield e colegas relacionando a vacina tríplice viral-MMR (contra sarampo, caxumba e rubéola) com o autismo. Os outros pesquisadores retiraram seus nomes do estudo e a Lancet se retratou formalmente em sua edição impressa, em fevereiro do ano passado.
Em maio, o médico perdeu seu registro depois de ter sido condenado por má conduta profissional. O GMC (Conselho Geral de Medicina) considerou que Wakefield agiu de forma "desonesta", "enganosa" e "irresponsável" enquanto fazia a pesquisa sobre uma possível ligação entre a vacina com doenças intestinais e autismo.
AUTOR NEGA ACUSAÇÕES
"O estudo não é uma mentira. As descobertas que fizemos foram reproduzidas em cinco países", disse Wakefield à TV CNN na quarta-feira.
Um painel disciplinar do Conselho Geral Médico Britânico afirmou, em fevereiro de 2009, que Wakefield havia apresentado sua pesquisa de modo "irresponsável e desonesto" e levou a profissão médica ao descrédito.
A editora Godlee e colegas afirmaram sobre o trabalho que ele foi baseado "não em má ciência, mas em fraude deliberada".


Médico inglês que ligou a vacina a autismo enfrenta processo ético

da Efe, em Londres

O Conselho Médico Geral do Reino Unido iniciou um processo contra o médico Andrew Wakefield, que em 1998 sugeriu que podia haver uma ligação entre a vacina tríplice viral e o autismo, na segunda-feira (16). Wakefield é acusado de falta de ética profissional em sua pesquisa.
Wakefield e dois colegas, John Walker Smith e Simon Murch, enfrentam a acusação pela polêmica pesquisa, publicada em 1998 na revista "The Lancet". Isso levou milhões de pais a enfrentar o dilema de vacinar ou não seus filhos com a tríplice viral ou MMR (contra sarampo, caxumba e rubéola).
O conselho não analisa as afirmações científicas contidas no artigo, mas tenta definir se Wakefield e seus colegas do Hospital Royal Free de Londres violaram uma série de práticas éticas durante o estudo, feito entre 1996 e 1998.
Segundo a entidade, os três profissionais não atuaram de maneira ética e faltaram com honradez ao pedir que o estudo fosse publicado.
Caso o conselho conclua que eles agiram com falta de ética profissional, podem ter o registro médico cassado. O processo ainda pode durar vários meses.
Recrutamento no aniversário
Segundo o processo, Wakefield pagou cinco libras esterlinas (quase R$ 20) a crianças para fornecerem um exame de sangue durante a festa de aniversário de seu filho.
Os profissionais são acusados ainda de agir de forma irresponsável ao não revelar à "The Lancet" o método utilizado para recrutar os pacientes submetidos ao estudo.
Diversos simpatizantes de Wakefield se reuniram em frente à sede do Conselho Médico britânico com cartazes de apoio e gritando slogans em defesa do médico na segunda-feira (16).
O artigo publicado em 1998 levantou na época uma forte polêmica entre a classe médica e criou um dilema para os pais.
Em 2004, a revista declarou que a ligação entre a vacina e o autismo não estava provada e o artigo nunca deveria ter sido publicado.
Os médicos insistem que a tríplice viral é segura e que outros estudos não puderam estabelecer um vínculo entre a vacina e o autismo.
Antes da pesquisa de Wakefield, mais de 90% das crianças recebiam a tríplice no Reino Unido. Após a advertência do médico, o número caiu para abaixo de 80%, subindo de volta a 85% este ano.

AUTISMO: Curto período entre gestações aumenta risco de autismo do filho, diz estudo

Curto período entre gestações aumenta risco de autismo do filho, diz estudo

DA EFE

Uma criança que nasce menos de dois anos depois que o irmão tem mais chances de sofrer autismo que aquela que nasce pelo menos três anos depois, constata um estudo da Universidade de Columbia (Nova York), publicada na segunda-feira (10)pela revista médica "Pediatrics".
Os pesquisadores determinaram, a partir de uma amostra de mais de 500 mil crianças californianas, que o espaço de tempo entre os nascimentos é um fator de risco para o diagnóstico do autismo.
As probabilidades de uma criança sofrer da doença aumentam quanto menor é o tempo que passou entre as gestações da mãe, de modo que as crianças que nascem menos de um ano após seus irmãos possuem risco mais elevado de sofrer autismo.
Os pesquisadores encontraram evidências do vínculo entre o período entre gestações e o autismo em pais de todas as idades, o que fez com que descartassem a possibilidade de que o fator de risco fosse a idade dos progenitores, e não o tempo transcorrido entre os nascimentos.
No entanto, um dos principais responsáveis do estudo, Peter Bearman, advertiu à "Pediatrics" que são necessárias mais pesquisas para confirmar a relação entre o período de tempo entre as gestações e o autismo. "A ciência é muito lenta e funciona passo a passo", declarou.
Os fatores que explicam a influência do período de tempo entre os nascimentos para a ocorrência da doença não "estão claros", lamentou Bearman.

AUTISMO: Teste rápido detecta autismo em bebês aos 12 meses de vida

Teste rápido detecta autismo em bebês aos 12 meses de vida

GUILHERME GENESTRETIDE SÃO PAULO

Um teste com 24 perguntas, que pode ser respondido em cinco minutos, identifica os primeiros sinais de autismo em crianças de um ano.
É o que propõe um estudo financiado pelos National Institutes of Health dos EUA, publicado hoje no "Journal of Pediatrics".
A pesquisa, feita por neurocientistas da Universidade da Califórnia, recrutou 137 pediatras para aplicar o teste em 10 mil crianças na consulta dos 12 meses de idade.
Os pais responderam ao questionário, com perguntas sobre gestos, compreensão e comunicação, e os pediatras avaliavam as respostas.
Ao todo, 184 das crianças que pontuaram abaixo da média foram acompanhadas nos meses seguintes.
Delas, 32 receberam o diagnóstico precoce de autismo.
Segundo a pesquisa, isso corresponde a 75% de acerto no diagnóstico, levando em conta outros distúrbios, como atraso no desenvolvimento e na linguagem, também detectados pelo teste.
Ivan Luiz/Arte
DIAGNÓSTICO
O autismo afeta o desenvolvimento da criança e compromete áreas como a sociabilidade. Quanto mais tardio o diagnóstico, piores as perspectivas de melhora.
Na média, os casos demoram a ser detectados, segundo o psiquiatra Marcos Mercadante, da Unifesp. "No Brasil, o diagnóstico geralmente é dado quando a criança já tem cinco anos e perdeu muita oportunidade de ter uma melhora", diz.
Se o problema for apontado cedo, tratamentos como terapia comportamental, para estimular áreas do cérebro afetadas, são mais eficazes.
Para o psiquiatra Estevão Vadasz, coordenador do ambulatório de autismo do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, a ferramenta pode ser útil principalmente na rede pública.
"Um pediatra de posto de saúde atende centenas de crianças. Não há tempo para fazer uma triagem adequada e encaminhar ao psiquiatra."
Para ele, é importante que o pediatra assuma essa tarefa. "É ele quem tem o primeiro contato com a criança." Mas Vadasz ressalva que alguns sintomas só aparecem após os 18 meses. "O ideal seria repetir o teste depois."

AUTISMO: Cientistas criam cobaias autistas para conhecer melhor transtorno

Cientistas criam cobaias autistas para conhecer melhor transtorno
DA FRANCE PRESSE

Cientistas americanos anunciaram nesta segunda-feira ter criado camundongos autistas, eliminando um grupo de seus genes, com a esperança de avançar no diagnóstico e no tratamento desta doença em seres humanos.
Estudos anteriores já tinham sugerido que causas genéticas podem ser responsáveis por este transtorno do desenvolvimento, que pode causar dificuldades de relacionamento social, reprodução de movimentos repetitivos, sensibilidade a certas luzes e sons, além de problemas de comportamento.
Algumas crianças autistas têm uma pequena supressão no cromossomo 16, que afeta 27 genes, razão pela qual cientistas do Laboratório Cold Spring Harbor, em Nova York, decidiram tentar alterar geneticamente um grupo de cobaias para que tivessem a mesma mutação genética.
"A ideia de que esta supressão pudesse ser a causa do autismo era emocionante", disse a professora Alea Mills, uma das autoras do estudo, publicado nas Atas da Academia Nacional de Ciências.
"Assim, nos perguntamos se retirar o mesmo conjunto de genes nos ratos teria algum efeito", acrescentou.
A pesquisa demonstrou que os camundongos alterados apresentaram comportamentos similares aos observados em pessoas com autismo: hiperatividade, dificuldade para dormir, para se adaptar a novos ambientes e a execução de movimentos repetitivos.
"Os camundongos com a supressão agiram de forma completamente diferente dos camundongos normais", explicou Guy Horev, outro cientista.
Os pesquisadores também descobriram que aproximadamente a metade dos camundongos autistas morreu pouco após seu nascimento. Estudos futuros poderão revelar se este déficit genético pode estar relacionado com mortes inexplicáveis de bebês, segundo a experiência.
Ao examinar o cérebro dos camundongos em exames de ressonância magnética, os cientistas conseguiram identificar quais regiões são alteradas nos animais autistas.
Este conhecimento pode ajudar os cientistas a determinar a base fisiológica do autismo, que afeta cerca de 1% das crianças nos Estados Unidos, e possivelmente levar a diagnóstico e tratamento precoces.
As crianças que têm autismo, caracterizado por uma série de transtornos relacionados com uma química cerebral anormal, costumam ser diagnosticados por volta dos três anos de idade.
Segundo especialistas, os meninos correm de três a quatro vezes mais riscos de sofrer de autismo do que as meninas.

FONTE: http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/985060-cientistas-criam-cobaias-autistas-para-conhecer-melhor-transtorno.shtml